No Brasil há 60 anos, as brincadeiras consistiam de herança popular com materiais muito simples como pernas de pau, bolinhas de gude, petecas, pipas, carrinhos de rolimã, piões de madeira. Muitas brincadeiras em grupo, não necessitavam sequer de quaisquer materiais. Havia árvores para subir, rios não poluídos para nadar e pescar. Todas essas circunstâncias favoreciam um brincar espontâneo e rico. Desenvolviam-se muitas habilidades e a criatividade era incentivada naturalmente.
Com o advento da era industrial, o incentivo ao consumo pelo consumo, foi soterrando toda a rica herança cultural, substituindo as brincadeiras naturais e espontâneas por outras com o uso de brinquedos de apelo imediato, mas pobre em conteúdo, levando ao rápido desinteresse. De frustração em frustração ao longo dos anos foi se generalizando a ideia de que o brinquedo é uma coisa supérflua. A sazonalidade na venda do brinquedo industrializado até hoje é conseqüência desse descaso. Fomos então pioneiros na concepção de que o brinquedo deveria ter um outro enfoque: fundamos a Brinquedos Educativos Trenzinho em novembro de 1970.
A ideia que no início era uma simples intuição foi se consolidando até adotarmos o slogan “brincar é coisa séria”. A receptividade foi enorme por parte de pais e educadores que nos estimularam através de sugestões e orientações permanentes. Somos imensamente gratos a esses educadores a quem continuamos recorrendo num processo de aperfeiçoamento contínuo. Educação é um processo dinâmico onde aprendemos sempre através da vigilância crítica e atenta. Cedo percebemos que só o brinquedo não basta. Este é apenas um instrumento. A brincadeira por mais simples que seja, quando bem conduzida e orientada, produz resultados maravilhosos. É sempre preciso lembrar as brincadeiras tradicionais de nossos avós que deverão ser guardadas e incentivadas não só como herança cultural, mas como tesouro valioso de sabedoria.
Na década de 70, coincidentemente, muitas pesquisas começaram a indicar a importância das atividades vivenciadas pela criança na etapa do zero aos seis anos. As experiências vividas nesse período vão definir o potencial de inteligência e comportamento. 80% das sinapses básicas estarão concluídas nessa fase. Entre zero e seis anos a criança precisa manipular objetos concretos. É uma atitude exploratória que envolve intensamente o uso dos órgãos sensoriais e do próprio corpo. O virtual não substitui a experiência concreta. Além disso, é imprescindível a criança sentir-se aceita e envolvida numa atmosfera de afeto e amor para desenvolver-se plenamente. Não é demais lembrar: nesse período a criança busca modelos e referências. Age imitando e repetindo. Por isso videogames que incentivam a violência têm influência danosa. Além disso, pais e educadores têm que estar conscientes de suas atitudes, porque são as principais referências.
É bom ter o equilíbrio entre o moderno e o tradicional com a participação de orientadores experientes, afetivos e sensíveis. Se a criança construir um alicerce firme e consistente certamente terá maiores chances de se tornar um adulto inteligente, sensível e feliz.